segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O juízo: face a face com o amor

Evangelho da Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo

*(Por padre Angelo del Favero  - ROMA, domingo, 20 de novembro, 2011 - ZENIT.org)

Ez 34,11-12.15-17: "A ti, meu rebanho, assim diz o Senhor Deus: eis que eu julgarei entre ovelha e ovelha, entre carneiros e bodes”.


Mt 25,31-46: "Quando o Filho do Homem vier na sua glória .. separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos, e porá as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. Então o Rei dirá aos que estarão na sua direita: “Vinde, benditos de meu Pai, recebei em herança o reino que vos está preparado desde a criação do mundo, porque tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber, era estrangeiro e me acolhestes, estava nú e me vestistes, enfermo e me visitastes, estava na prisão e viestes encontra-me. Tudo aquilo que vocês fizeram a um só destes meus irmãos mais pequeninos foi a mim que o fizestes".Então dirá também àqueles que estarão na esquerda: "Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, .. porque tive fome e não me destes de comer, ... não me destes de beber,...não me acolhestes,.. não me vestistes,... não me visitastes. Tudo o que não fizestes a um só destes mais pequenos, não o fizestes a mim”. E irão: estes para o suplício eterno, os justos pelo contrário à vida eterna”.


Só se passaram três semanas desde a festa dos santos e olha eles aqui de novo em ordem de batalha diante dos nossos olhos, à direita do Rei. São todos aqueles que ouvirão, "tudo aquilo que vocês fizeram a um só destes meus irmãos mais pequeninos foi a mim que o fizestes” (Mt 25,40).

Um quadro grandioso e glorioso, do qual o Criador não quer excluir ninguém: esta é a adoção dos filhos de Deus, que na verdade dirão a Deus o que o mesmo Filho declara, em São João: “todas as minhas coisas são tuas e todas as tuas coisas são minhas” (Jo 17:10)":
assim o descreve o carmelita São João da Cruz, acrescentando que a alma fiel "participará da mesma beleza do Esposo no dia do seu triunfo, quando verá a Deus face a face” (Cântico Espiritual B, 36, 5).


Hoje, no entanto, o quadro também inclui a legião dos "condenados". São aqueles que, chamados a realizar a felicidade da vida no dom sincero de si, vivem (por assim dizer) no contínuo "dano" de si, porque "matam" a própria pessoa não querendo reconhecer nem colocar em prática o mandamento do  amor: "tudo o que não fizestes a um destes pequeninos, a mim não o fizestes " (Mt 25,45).

O Evangelho de hoje é uma espécie de imensa "fotografia de grupo" entregue a cada um para que escolha de forma responsável, desde agora, a qual dos dois exércitos do juízo pretende pertencer: aquele dos eternamente vivos à direita do Rei, ou aquele dos mortos para sempre na sua esquerda.


Portanto, não nos iludamos: ser membros das ovelhas abençoadas é um dom relacionado à tarefa diária de fidelidade chamada à resistir “até o sangue, na luta contra o pecado" (Hb 12.4), pela qual temos "só necessidade de perseverança, porque, feita a vontade de Deus, obtenhamos o que foi prometido" (Hb 10,36).


Mas não nos desesperemos: se nos arrependemos no nosso mau cheiro de cabras e começarmos a fazer as obras do amor, o “perfume de Cristo” (2 Cor 2,15), nos encherá por toda a eternidade. E tais obras as podemos fazer realmente porque não nos falta a ajuda determinante da divina Misericórdia, que quer: “que todos os homens se salvem e alcancem e cheguem ao pleno conhecimento da verdade" (1 Tim 2,4).



Mas então nos perguntamos: o que significa viver desde agora à direita do Rei? Em outras palavras: em que consiste essencialmente a santidade? A santidade consiste na perfeição do amor, mas o amor pode ser praticado de muitos modos, segundo as várias personalidades e circunstâncias. São Paulo o afirma implicitamente quando, falando da transformação total do homem na ressurreição final, diz que "cada estrela difere da outra no explendor" (1 Cor 15,41). Paulo quer dizer aqui sobre uma diferença permanente no estado glorioso definitivo.


Por isso, ainda que os mártires nos primeiros tempos da Igreja fossem considerados como os verdadeiros cristãos e santos, se admitiu que se poderia haver outras formas de "morrer a si mesmo", que exigiam essencialmente as mesmas virtudes admiradas nos mártires.


É assim que, através da contemplação da obra salvífica de Cristo, personificada nos seus santos, os crentes são trazidos de volta para o mistério fundamental da santidade cristã, que é essa pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo.

O mesmo Paulo, na verdade, revela que: "É em Cristo que habita corporalmente toda a plenitude da divindade, e vós participais da plenitude daquele que é a cabeça de todo Principado e de todo Poder" (Col 2,9).

Com a sua morte, os mártires e todos os santos testemunham o incrível mistério da fé: Deus nasceu em Belém de uma mulher, morreu e ressuscitou dos mortos ao terceiro dia, na sua própria carne crucificada. Assim, no Filho encarnado aquela santidade que para os hebreus só Deus podia possuir e comunicar, fica acessível a todos os homens, que são santificados por causa disso.

Os cristãos são "santos" pela sua relação com Aquele que é o Santo por excelência, “de cuja plenitude nós todos recebemos” em dom e tarefa a santidade batismal (João 1,16).

Assim, recebendo constantemente a vida de Jesus ressuscitado, através dos sacramentos e da Palavra, nos tornamos conformados com a sua santidade, não por meio nossos próprios esforços humanos de mortificação (ainda que o compromisso da nossa liberdade não pode faltar), mas graças ao triunfo gradual da virtude do nosso próprio baptismo. A este respeito uma última consideração é mais do que apropriada.

A vida dos santos é uma demonstração contínua da nossa cooperação com a graça divina. Muitas vezes os biógrafos se esquecem que a santidade é uma conquista gradual, e omitem ou reduzem ao mínimo os testemunhos da luta interior suportada pela fraqueza dos santos, com as suas quedas e sua contínua ascensão.

No fundo, o primeiro daqueles que estarão à sua direita, e que o Rei dirá: "Vinde benditos de meu Pai, recebei em herança o reino que vos está preparado desde a criação do mundo" (Mt 25,34), é o criminoso que foi crucificado com ele, e não sabemos se, no Calvário, se encontrava à sua direita ou à esquerda (Lc 23,33.43).


* Padre Angelo del Favero, cardiologista, em 1978 ele co-fundou um dos primeiros centros de apoio à vida perto da Catedral de Trento. Tornou-se carmelita em 1987. Foi ordenado sacerdote em 1991 e foi conselheiro espiritual no santuário de Tombetta, perto de Verona. Atualmente se dedica à espiritualidade da vida no convento carmelita de Bolzano, junto à paróquia de Nossa Senhora do Monte Carmelo.

[Tradução aos cuidados de Thácio Siqueira]

Fonte: Zenit

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